9.28.2009

A idéia concreta

A idéia de vir aqui e vomitar tudo o que tinha que ser vomitado, não agrada. Só sobram azias e mais azias e desconfortos gastrointestinais.
Chega uma determinada idade de nossas vidas, que optamos por algumas coisas em pról do bem estar, da conciliação, do bom convivio, então criamos regras de normas e condutas.
Tudo vira uma grande caixa de decisões que teimamos em chamá-la de amadurecimento. A vida por diversos momentos nos mostra que os acontecimentos tem um porquê, seja ele qual for. Seja pra melhorar, pra termos lições e mais lições, sermos mais tolerantes, mais pacientes, e na verdade acabamos por crer que a vida é uma só, e que temos que vivê-la a cada instante como realmente fosse o último de nossas vidas.
Aproveitar cada instante, gravar cada coisa em sua mente, em forma de lembranças, em forma de saudades. Digo assim, sendo ou um outro, mas eu prefiro as lembranças, as saudades sempre são sinonimos de dor, de algo que foi e não volta. Lembranças são coisas até que boas, que até podem fazer parte do seu presente, mas que são momentos que podem ou não retornar.
Voe como se nunca pudesse mais ter asas para voar, pule como se as pernas fossem lhe faltar, e principalmente ame muito como se nunca mais pudesse amar.
Seja inteiro, seja integro, desfrute da brisa que chega de manhã nos acariciando o rosto; tome o banho mais demorando possivel, pensando em que a água não mais terá.
Tudo é único, momentos são únicos. Demonstre tudo. Seja tudo pra alguém. E permita ser tudo para alguém. Quem sabe amar, sabe receber. E vice-versa.

Como já dizia Florbela Espanca: "...A vida? Quero viver aos longos tragos..."

9.23.2009

Inteira

Sim, todo mundo odeia textos pessimistas. Então, quem vai ler este texto e pensar "Pow, escreve um texto positivo, homenageando a beleza, contando piada", melhor ir assistir a novela. Primeiro porque hoje não estou solidária com vontade de ser palhaça pra ficar aqui contando piada. Segundo porque nem a risada que o palhaço arrancou de você é de graça. Então, vá assistir a novela e não enche o saco. E eu quero falar de mim. E hoje não tô boa. Cuidado para não voar uma letra no meio da sua testa. Meia letra seria o suficiente pra deixar um hematoma. Mesmo porque eu só me sinto a metade. A metade do corpo, do cérebro, do coração, principalmente. Parece assim, uma paralisia de gente histérica. Mas deixo claro que estou mais pra neurótica. Meu corpo vem refletindo a meia vida que levo. Tudo tem meia função. O ônibus que não impede de ir e vir, mas humilha. O salário que dura meio mês e compra só a metade do que se precisa. A minha casa, que é meio nossa quando se paga o aluguel. Os amigos que estão meio distantes e nunca perto o suficiente. Gente que tem coragem de ofender quem ama, machucar, esfolar. E depois sai por ai com cara de boa gente, de cultura pacífica e educação impecável, assoprando quem lhe é conveniente. Tudo imagem que existe por fora mas não por dentro. Sentimentos tão nobres quanto burros, divididos em dois pólos que se estranham. As palavras, ah, estas vilãs amigas que chegam inteiras, acrescidas do dobro do seu valor semântico, o que implica a soma de uma metade, seja ela fantasia ou realidade... E mesmo quando lhe faltam letras. Para bom entendedor meia palavra basta e ainda é começo, uma frase velha, mas tão atual. Meias verdades, meios amores, meio ódio que não tem plural. Meio frio, meio calor, paciência transbordada meio palmo acima da testa... E todo dia acordo [como se fosse para lembrar que não tenho o direito de pisar na vida por inteiro] com um pé com meia e o outro sem. Um deles tem o privilégio do aconchego, do cuidado e calor. O outro aprende a resistência ao frio. Erros sanados com carinho, acertos estimulados no tapa. E vice-versa. Beijos meia boca, desculpas meio esfarrapadas e verdades ao meio. Sento no meio-fio sem a metade que procuro, que minhas meias certezas ou dúvidas não me deixam afirmar com vêemencia se é a minha ou a do outro. E penso que, talvez, possa completar o vazio com outra metade igualmente vazia. Bom-humor que irrita o mau-humor que se vinga. Choro e sorrio, repartindo um horizonte no meu rosto, um mundo pra baixo e outro pra cima. Invoco meu masculino violento para legitimar meu feminino delicado. Lágrimas, ora sutis ora agressivas. Se o copo está meio vazio ou meio cheio, tanto faz. Saciar não admite meio termo. E já não sei quem é mais 8 ou 80 e quem perambula do 1 ao 79... Estou meio triste, sem realmente querer dizer que a outra metade está feliz. Não estou nem um nem outro. Sou metade corpo, metade alma. Tento explicar a mim mesma que ninguém, nem eu, pode estar meio viva meio morta. Mas não me convenço integralmente, porque sou uma inconformada. Será que consigo continuar completa, mesmo ajoelhada sobre o espelho repartido? Consigo a outra fração de força, para recolher meus pedaços? Será que engulo a parcela rota de tanta integridade bi-partida? Me enjoei do costume de comer uma vida meio mussarela, meio calabresa.