7.31.2006

Tudo leva a crer...

Sabe o gosto que tem o movimento enguiçado de uns lábios defuntos que roçam nos seus?
Sabe, quando a boca esfarelada se esturrica com a indiferença interior e despeja litros de saliva ácida, fabricadas pelo ócio da aorta?
Movimento mecânico, incômodo, nauseante. A gente sempre acha que degustaría do prazer ao engolir, a longos tragos no gargalo, o líquido rançoso de um vidro de vinagre.
Ah...que pueril!Querer transformar o vinagre em um vinho bom enquanto transformam em amélia uma mulher de verdade.
E a amélia gostou, amou e foi fiel, porque comeu o pão que o diabo amassou e se fartou do vinagre para desentalar o miolo.
A amélia boazinha que morreu numa quarta feira de cinzas e pó e nada, de causa mortis o veto dos beijos cadavéricos, celebrou a própria morte regurgitando o vinagre pelo nariz. A vida esbofeteou seu rosto e sussurou a palavra kum com seu nome de batismo. O elixir amargo dá dores de estômago, toma mais docinho que é melhor.

7.27.2006

Gostos

Ovo,
gema de ovo,
só gosto de gema mole...

e você?

7.25.2006

Espelho, espelho meu

Ridícula, tola, imbecil, enganável...
O espelho devolveu estes contornos, ontem, enquanto encaravam-se. Ao invés de indagar se havia alguém mais bela, o espelho foi quem examinou a figura através de seu reflexo...
Ria-se, tentando descobrir se já havia refletido alguém mais patético.Certamente que não. Era aquela,de todas, a figura mais esfarrapada, miúda por entre os trapos de sua auto-estima.
Sentia-se injustiçada, trêmula e impotente, transpirandoo fel da revolta. A vista turvou-se com a constante mastigação da mente,mais frenética e barulhenta que uma vaca ruminando um chiclete de capim. A revolta estilhaçou-lhe a aura negativa. Uma deliciosa revolta que desaguou numa nudez modesta, quase frontal.
Os olhos queimaram do frescor do vento da queda livre...A liberdade!!! Finalmente, a liberdade e os ventos que ela faz soprar no rosto macio!! Dissolvendo o egoísmo repressor das coisas dignas e a maldade que sugestiona as cabeças vadias, escolheu se livrar das justificativas inúteis, da falta de crédito que recebeu no lugar do excesso que merecia. Decidiu, de uma vez por todas, carregar até o fim a cruz da verdade crua e simples. Porém, desistiu de chorar as dores intensas que fervilhavam da censura e da retalhação, da crueldade das injúrias cravadas em sua honra. Sua retidão bastou a si própria, ela esqueceu os caluniadores e pobres de espírito.
- Agora sim, posso dizer que não existe ninguém mais bela, branca!

7.24.2006

Anestesiada

Anestesiaram tudo, a única coisa que sinto são minhas mãos agitadas e frias. Meus pés continuam fincados no mesmo lugar, inertes a tudo e a todos. Criei raízes tão fortes que vou virando conforme a brisa sopra.
Essas mesmas mãos que se agitam não dizem nada. Foi cortada até minha capacidade do expressar. Praticamente virei um vegetal, dos meus sentimentos e vontades.
Quando isto aconteceu? Onde fui que perdi a última essência de viver ? Não, não é um viver qualquer e genérico. É o viver de realizações, dos sentimentos a flor da pele, o palpitar incansável de um coração a espera de outro. Há duras pedras. Há ainda o toque e o cheiro, são saudades incansáveis de sentir.
Os ouvidos, estes ouvem apenas músicas que traduzem um pouco do que sinto, mas que não crê em nada do que é dito. A boca só serve de alegoria aos tristes olhos que lhe fitam. Acho que perdi realmente minha porção de mulher.


Não era nada disso que eu queria escrever, saiu isso. A verdade é que mal consigo escrever um texto, estou anestesiada de sentimentos que, talvez, poderiam ser expressos aqui neste canto. Travei os dedos, está é a realidade

7.11.2006

A dose diária de farpas

Às vezes esperamos que dentro de casa a comunicação flua bem, os fazeres, que talvez nem sejam tão ao alcance da realidade, não seja um motivo a mais de discórdia.
Tentar reconhecer os erros e assim fazer, soa tão pouco pra quem sempre esperou mais... As palavras só servem, até então, para machucar.
Criamos laços de desavenças a troco de hierarquias... Quem manda em quem, e quem pode mais.
Tudo já se tornou tão banal, tão corriqueiro, que nem as lágrimas, simbolo de quem sofre, caem... O descaso é evidente, mas não haveria outro modo de ser.
Esperamos talvez, que o abraço, aquele que nunca foi dado, soe como pedido de desculpas... Mas não haverá, nada acontece.
Ficamos assim, inertes a tudo, esperando as coisas acontecerem e de braços cruzados pro mundo.
Não haveria de ser uma familia feliz, realmente.

7.07.2006

Sendo reticências..

Olha só que ironia, eu que tão pouco tempo escrevi sobre estar cansada de ser reticências, me vejo sendo novamente...
Não consigo traduzir muitas linhas, por enquanto, que não falem de sentimento e de conflitos internos e externos.
Tentar entender o ser humano, suas atitudes e suas faltas, está longe de mim. Mas eu me indago diversas vezes, procuro por inumeras vezes explicações plausiveis que meu intimo não trará. Reluto em ouvir a voz da verdade, às vezes doi menos se enganar - pelo menos temporariamente.
Existem sempre dois caminhos a serem seguidos, e eu escolho sempre o errado. Talvez porque o brinquedo proibido sempre é mais gostoso de ser mexido. O sinal vermelho, por diversas vezes é ultrapassado pela sensação de perigo. Não sou nenhum kamikase, mas até pareço ser, alias, quem nunca se sentiu assim?
Sem parecer tola, queria somente ter o direito de ser feliz

Brasileiros do meu Brasil

A "Copa do Mundo" era um dos meus eventos favoritos, pois sempre tive interesse por todos os gêneros esportivos. Já este ano senti uma revolta imensa contra o futebol, contra a violência incorporada junto ao fanatismo das torcidas, contra a " Política do Pão e Circo" (adaptando para o cenário brasileiro: "Pizza e Circo"), contra o povo besta que CHORA por causa do gol perdido e aquela palhaçada toda, mas que acha graça do formigueiro agressivo e irritante que nos invade nos ônibus e metrôs, acha que somos "fresquinhas" por não querermos pagar o ônibus quando a lotação está absurdamente acima do permitido, que dá um safanão na orelha do próprio filho pequeno que tem vontade de comer algo que não seja arroz e feijão, mas que enfia o rabo entre as pernas para os gritos do patrão...
A eleição ainda é esse ano?
Por isso aqui vai o meu protesto à terra brasílis:

Pátria
Bela prostituta dos seios fartos
Carinhosa com teus gringos
Falida para os teus filhos
Cosméticos importados
Para disfarçar o azedo
De suas doenças venéreas.

7.05.2006

Opa, peraí, não sobrou pra mim?

Sabe lá o que os pessoas querem realmente da vida...
Buscamos a diplomacia, na maioria de nossas atitudes. Pergunto-me constantemente se esta atitude moralmente plausível, pode fazer com que a nossa alma palmilhe satisfeita pelos labirintos da vida. Em minhas vivências tenho experimentado muitos sentimentos intensos, desde tatear as trevas da raiva até o engasgar com alegrias febris. Porém, a incerteza em relação à minha recuperação, depois dos tombos que vêm com os novos solavancos que levo da vida, me obrigam a encolher as idéias fixas. E repensá-las todas outra vez...
Os cigarros, veja que ironia, também me ajudam a pensar. Suprem talvez, o beijo que não me queiram dar ou aqueles que eu não posso oferecer. A diplomacia vem reluzente em sua armadura de prata, sobre o seu cavalo de duras patas fincadas no chão seguro, ofertando o seu sorriso amarelo gratuito, um amarelo gasto.
E é assim que eu me sinto, fazendo um super saldão de sorrisos, sorrisos de segunda linha, tipo réplicas nas quais se costura a etiqueta do original. Estes presentes de segunda linha são mais onerosos do que se pensa, preferimos eles mesmo que tenhamos acesso aos originais.
Uma gargalhada incandescente, espontânea, sadia? Poucos conseguem retirá-la dos escombros que trago no peito.
O que isso tem a ver com mudez? Amordaçamos nossos desejos mais profundos, emudecemos a voz de nossa essência, calamos o estardalhaço de nossos conflitos interiores, censuramos as delícias e o prazer sagrado de nossas alegrias. Esperamos então receber o tão suado salário de nossos próximos, que revelam-se escravocratas de nosso comportamento serviçal?? Talvez soasse muito chula a expressão "Pé-na-Bunda", por isso prefiro omitir as recompensas que costuma-se receber, quando se quer agradar as pessoas contariando a si mesmo.

7.04.2006

Palavras mudas

Já sentiram vontade de gritar para o mundo inteiro ouvir suas vontades, seus sentimentos e tudo o que cerca seu espaço? Mas a única coisa que sai são gritos no silêncio vasto? Exatamente assim que eu me sinto. Ando incompleta. Às vezes é necessário deixar as palavras fluirem...
Aquela velha história de ser reticências me cansou. Enjoou o pouco do estomago que me resta, pela quantidade de cigarros e xícaras de cafés e pelo fato de não conseguir ingerir nada.


Tudo anda meio morno; o morno não aquece nada e nem alimenta o que tem fome, e eu tenho fome e sede de mais coisas a serem vividas. Conseguem compreender, até aqui, onde eu quero chegar?
Esta incostância do dito pelo não dito, as atitudes parecerem tanto faz, tanto fez é alarmante. Queria atitudes misturadas com as tais palavras, as palavras escritas assim, preto no branco.