2.18.2009

Despretensiosa Pretensão


Pretensão é uma palavra relativamente nova para mim, pois aprendi, recentemente, a perceber que ela está embutida, com a cara mais deslavada do mundo, nas entrelinhas da minha "humildade", "compaixão", "prepotência" ou "benevolência". Ser bom não implica necessariamente ser moralmente aceito, de comportamento exemplar e lustroso. Ser bom é ter a cara de pau necessária, é conhecer o direito do outro e agir de forma que sua conduta não contrarie sua própria vontade e nem corrompa o ambiente alheio. Ser bom, não é ser mediocremente submisso, não é enganar para aliviar um sofrimento. Isso é terrívelmente mau. Ser bom é agir de acordo com si mesmo, sem que isso seja colocar o outro num labirinto pré-fabricado de prepotência. E então eu pude ver as duas faces da pretensão. Uma delas pisca para mim cheia de simplicidade e amor próprio, sorridente de altruísmo. A outra? A outra é feia. Cheia de verrugas no nariz, a me fitar de soslaio. Eu sou uma pretenciosa nata. Não tenho um desviozinho de coluna sequer, caminho sempre com os ombros à altura do meu queixo. E também acho que se Jesus deu o ar da graça realmente à Terra, algum dia, com seus pés descalços, foi porque queria mostrar que todos nós podemos ser como ele foi. Eu posso ser Jesus, com outro nome, outro sexo, com filhos ou infértil, loira, negra, fumante ou não, você também pode, isso se você não me disser, antes, que isso é uma heresia. Eu não tenho é a pretensão de convencer alguém com mentiras, achando que sou a picanha mais bem temperada da cozinha, mesmo porque existem milhares de vegetarianos por aí. Mas eu sabendo que sou uma picanha temperada com exclusividade e requinte, dou-me o direito, sem auto-condicionamento, de querer ser tratada como tal. E saber que isso é plenamente possível. Pois há paladares muito mais refinados do que se imagina, por aí. Nós é que somos humildemente conformados. Nos conformamos com a pretensão de sermos "bons" e "pacíficos" passivos de merda. Quantas vezes tampamos a nossa fervura interna, de mudar o caminho, de intervir em algo, de tomar o volante nas mãos e aprender de uma vez por todas a dirigir, ou a pegar um atalho, ou iniciar uma viagem inédita? Sou pretensiosa incorrigível, daquelas que acha que pode mudar o mundo e ainda mais além: que sabe que muda. Assim como qualquer um que acredite nisso de forma espontânea. Sou pretenciosa quando uso a ironia para despir o óbvio, quando pessoas se fazem, propositalmente, de mortas. Sou maravilhosamente prepotente neste ponto. Tenho a preciosa prentensão de eleger a roupa transparente nas minhas relações, e ser quem eu sou pura e simplesmente, porque quero. E tomar tapas absurdamente pesados e receber recompensas singelas por isso. Porque a leveza de me deixar manifestar só compensa o fardo de encarar a raspa de "final de festa à fantasia". A coisa fica feia quando achamos que somos prepotentemente indispensáveis, por declarações abertas ou nossa intuição, ao passar a manteiga saborosa da nossa fé ingênua no pão murcho e sem miolo alheio. Ou ser prepotentemente conveniente em exceder na geléia sobre torradas mofadas. E depois nos eximimos da culpa! Quando guardo minhas lágrimas ou deixo-as rolar, quando dou risada no exato momento ou em momentos inoportunos, quando pareço desequilibrada ou frágil, quando grito ou consigo dialogar, quando me acho a melhor ou a pior mãe, filha, amiga, irmã, cidadã do mundo... Quando erro, quero ser convecida com bons argumentos, para assumir, corrigir ou aprender a olhar diferente. Quando abaixo a ditadura e quando acho que preciso de ordens para me disciplinar. Sou pretenciosa porque escrevo o que penso e ponho a público. É claro que, se espera elogios, mas também prevê-se a crítica. Porque guardar meus pensamentos por vergonha ou imperícia é pretensão de atingir aplausos. Aplausos, quem não quer? Adoro! Pretensão deliciosa. Mas também gosto do silêncio da reflexão alheia. Mas guardar tudo esperando ficar bom é ter a pretensão de ser o próprio mestre daquilo que se pensa ignorar. É a pretensão em não aceitar visões diferentes, muitas vezes, construtivas, pior que isso, não ter curiosidade de saber. Eu tenho a pretensão de não acreditar no destrutivo. Eu quero ser amada, aclamada e não esquecida pelos que amo. Mas não posso subentender que sou essencial para todos. Sou essencial para quem quer, e muito, muito obrigada por este privilégio! Tem muita gente querendo, mesmo que não seja aqui, agora, sob um teto ou sob este exato momento. Sou pretenciosa porque penso que o universo contém tudo aquilo que necessito e molda as peculiaridades de nossas fantasias. E para mim o universo é mais do que uma prateleira de coisas que se pode ter e que se quer. É uma oferta inesgostável de coisas à nossa disposição. Algumas tem um preço para aquisição, e sou pretenciosa no sentido de achar que muita coisa vale o seu preço. E que o preço não é um castigo, mas uma oportunidade de merecer ou reconhecer o valor do que se quer. E sou pretenciosa de achar que mereço. E que também sou capaz de merecer o que nem imagino.

Um comentário:

Vivi disse...

dá licença? mas Ca-ra-lho.

Q texto maravilhosamente bem escrito com linhas de pensamento lineares..
Ser bom é ter a sensação de que independentemente das nossas atitudes, que nos cabe na nossa verdade, as pessoas nos admiram e nos querem assim mesmo, do jeito que a gente é.

Aaaaaaaaaa
Eu gosto de vc assim do jeito q é, adoro os seus textos..

AMO alias.
vc fazia falta aqui, mta.

Dá té vergonha de publicar meus textos kakakakaka..
Beijosssssssssssssssssss